segunda-feira, 28 de março de 2011

CARIOCAS NÃO GOSTAM DE DIAS NUBLADOS!!


Até a segunda página, que é quando eu descubro que gosto!!!
Chove lá fora e aqui... ainda não faz frio. Mas confesso que o frio também não me inspira, na verdade, me incomoda.
Dentro de casa sinto o frescor da chuva que cai depois de um dia quente. A delícia de sentir a brisa que paira sobre meu corpo me faz dar conta do quanto tenho curtido os dias nublados! Mas não gostava mesmo. Não gostava porque em dias nublados não rolava praia e eu era uma rata de praia, era fascinada por ficar exposta ao sol torrando até ficar naquele bronze! Coisa de louco, mas de vez em quando ainda faço isso! A pele castigada do sol não mais me permite tamanha exposição, então mesclo, aproveito um pouco no verão e depois me recolho pra que ela silencie e se acomode.
Hoje consigo olhar para os dias nublados e ver neles a sua beleza. Isso me encanta! O gostinho de aconchego, de colinho... São dias propícios para ficar em casa, comigo mesma, me dando colo, me nutrindo... Então, enquanto chove lá fora, eu me deleito, esparramo-me no meu ninho e me permito aqui estar.
Procuro o que fazer no meu habitat... Leio, escrevo...
e tudo passa ser uma fonte de inspiração, até mesmo a chuva que cai lá fora...

sábado, 12 de março de 2011

ESCREVER É MEU PROCESSO CRIATIVO...


Como arteterapeuta, me fazia constantemente uma pergunta. Pergunta esta, que mesmo antes deste meu processo de enamoramento com a arte, também já me inquietava. Não há nada, artisticamente falando, de que eu goste? Um bordado, um tricô, pintura, cozinhar... e ficava então, me fuçando na busca deste grande achado. Gosto de fazer algumas coisas sim, até mesmo cozinhar, quando de posse de uma receita não tão complexa! Gosto de fazer mandalas, mosaicos, pintar de vez em quando, fotografar, mas nada que me fizesse ocupar o meu tempo de forma considerável ou que me desse tanto prazer a ponto de passar horas a fio inebriada na atividade.

Descobri na arteterapia que arte é muito mais do que aquilo que consideramos arte. Mas por pensarmos de forma tão restrita e desconhecermos o que seja, acabamos por excluir com facilidade o que de fato se intitula arte em favor daquilo que apenas admiramos por sua beleza. Arte é um processo criativo, e como todo processo criativo ela é ampla, complexa, livre e por vezes, foge a nossa compreensão.

“Fazer arte é uma maneira de concretizar nossa necessidade de viver num âmbito mais amplo e profundo. No processo de criar, expandimos nosso psiquismo [...]” (ZINKER, 2007, p. 21).

A minha arte é a escrita. São as palavras que uso na construção e materialização de mim mesma, á a minha expressão. Ao tramá-las permito ir dando forma ao que escrevo, assim como uma modelagem ou uma pintura que vai se delineando.

Neste processo da escrita busco a mim mesma e vou tecendo a minha própria história de vida. As palavras exercem um poder grandioso, vão sendo trançadas e manipuladas, assim como os fios usados por uma tecelã. Ao escrever as minhas várias histórias sinto que vou tecendo minha teia e me construindo.

“Ao colocar no papel a sua imaginação, ao selecionar vocábulos e expressões para a sua produção, a energia que está contida no símbolo (palavra) é ativada e torna-se, já a partir daquele instante, um projeto de realidade” (VASCONCELLOS, 2007, p.113).

Então descobri porque passo horas a escrever, e este processo me fascina. É a minha arte, a arte de escrever, de ser, de viver. Escrevo, reescrevo e transcrevo.

Esta prática me exige a vida, pois é neste processo que me busco, rebusco, crio e recrio. “[...] em cada ato criativo podemos nos recriar, transformar e renovar, retramando o próprio destino” (BERNARDO, 2008, p. 23).

Escrevo pra não enlouquecer, pra registrar, pra desabafar, pra ressignificar. Escrevo o que vem a alma, o que sinto, o que penso, o que sei e o que não sei. Escrevo para aprender.

Escrever é gritar, é por para fora as minhas feras ocultas, escusas. Para dar voz ao silêncio do meu pensar, do meu sentir. Por isso escrever é terapêutico, porque me permite expressar e examinar conteúdos e dimensões de minha vida interior.

E o que era apenas uma folha de papel em branco passa ser a possibilidade para o germinar das minha ideias. Logo mexo, remexo, pesquiso, vou e volto, dispenso, mas a ideia permane na cachola, e em algum momento ela sai e se presentifica, ganha vida por meio das palavras. Assim, passo o tempo delineando a minha criação, a minha obra prima, formatando o meu pensar.

E o que vejo é meu, eu fiz, eu juntei as letrinhas, as palavras e as frases. Eu rebusquei aqui e ali nas lembranças daquilo que a vida me deu. Dou-me conta de que não quero somente trazer na lembrança aquilo que foi vivido, preciso ressignificar e transformar. Escrever me faz bem, me acalenta a alma, me nutre e me transforma. 

Escrever me faz perder o sono e aí desisto de dormir e vou escrever porque as idéias afloram... sabe pedal de bicicleta em alta velocidade e mesmo quando você resolve parar ele continua disparado sem controle!

Juliano (1999), diz que é tarefa do terapeuta olhar para os retalhos de histórias que são trazidos. Vejo-me desta forma, como minha própria terapeuta, recolhendo os pedaços das minhas histórias, compondo e recompondo, reorganizando, ensaiando novas percepções.

Formando um mosaico de mim.

“Muitas vezes, a partir de um texto, encontramos a saída para algum problema. A resposta já se encontra em nós, mas não era possível surgir com a fiscalização constante do ego. Escrever é dar oportunidade a todos os nossos anjos e demônios. É permitir que apareçam para que possamos dialogar com eles e negociar o nosso futuro” (VASCONCELLOS, 2007, p.113)

E desta forma, vou seguindo o caminho da minha individuação.



REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

- BERNARDO, P. P. A prática da arteterapia: correlações entre temas e recursos., v.I: temas centrais em arteterapia. São Paulo: Ed. do Autor, 2008.
- JULIANO, J. C. A arte de restaurar histórias: o diálogo criativo no caminho pessoal. São Paulo: Summus, 1999.
- VASCONCELLOS, M. Palavras da salvação: a importância da escrita na busca do si-mesmo. In: PHILIPPINI. A. (org).  Arteterapia – Métodos, Projetos e Processos. Rio de Janeiro: Wak, 2007.
- ZINKER, J. Processo criativo em gestalt-terapia. São paulo: Summus, 2007.