terça-feira, 26 de abril de 2011

DANÇANDO CONFORME A MÚSICA


A vida moderna nos pede a cada momento uma reconfiguração. As exigências do cotidiano nos colocam diante de novas situações, impondo uma permanente adequação. Mas este processo nem sempre é fácil, é preciso jogo de cintura, é preciso aprender a dançar conforme a música.

Dançar é um convite para uma experiência vivencial, onde cada um será o seu próprio experimento vivo de uma experiência de corpo e alma, combinando diferentes níveis de contato e integração dos sentidos. Por ser um experimento, é um excelente instrumento de trabalho em Gestalt terapia, bem como, um método de facilitação e de ampliação da consciência.

Dançar conforme a música, é experimentar entrar em contato consigo por meio dos diversos ritmos musicais, se observando e buscando dentro de si o seu próprio compasso, para que possa vivenciar a experiência ajustando-se criativamente dentro do contexto sugerido. É a partir da relação de contato estabelecida consigo próprio e com esse corpo em movimento que o processo da aquisição do ritmo vai acontecendo.

Estar em contato inclui a experiência do aqui e agora. É estar pleno, awareness de si, numa relação corpo-pessoa. A experiência possibilita ainda descobrir polarizações e tomar consciência sobre elas, expandir o repertório de condutas e a elaboração de novos conceitos sobre si, além de criar condições para ver a vida como uma autocriação.

Assim como viver exige constantes mudanças, na dança, também é necessário uma adequação para que se possam dançar os diferentes ritmos, seja uma valsa, um tango ou um samba, mas respeitando o jeito e a singularidade de cada um. Somos diferentes e, portanto, dançaremos a música que toca a partir de um jeito próprio, único de ser, de forma análoga como é viver.

sábado, 9 de abril de 2011

O GRITO!!

Certos atendimentos despertam em mim um olhar e uma escuta diferenciada. É quando vejo, que de fato, o outro é mais parecido comigo do que supunha a minha imaginação. Ao testemunhar a dor do outro me revisito em seus alinhavos. Contratransfiro.

Aos poucos vou me dissipando e adentrando meus pensamentos, indo ao encontro dos pedaços que se perderam em algum lugar de minha vida. Pedaços que foram deixados para trás por alguma razão, mas que agora estão ressoando a partir da fala do outro.

Em psicoterapia podemos considerar este momento melindroso, visto que a atenção que deveria ser destinado ao outro, de forma inteira, fica bloqueada e o contato interrompido.

Todavia, é hora de se perguntar...

Mas deixemos de lado os meandros de uma relação terapêutica.

Nossos recortes, quando não são remendados por nós mesmos em nosso processo de reconstrução, se presentifica na fala do outro. Em algum momento, quando menos esperamos, mas quando provavelmente já estamos prontos para reiniciarmos este processo, algo nos é sinalizado e o discurso do outro cai como uma luva!

Certo dia, recebi em atendimento institucional uma senhorinha que muito me chamou a atenção. Vestia-se espalhafatosamente! Meio desnorteada com os últimos acontecimentos de sua vida, dava-se conta do quanto que se calou, do quanto que deixou de se expressar, de gritar. Sua voz tamborilava demonstrando fragilidade e por um instante parecia alguém não muito cônscia de si. Mas derrepente, num sobressalto, no seu despertar pra vida, começou a se trazer de forma inimaginável.  

Abri um parêntese, coloquei-me ali para mais tarde me apropriar do que era meu e retomei a atenção, devolvendo-lhe o que era de direito naquele momento: o olhar e a escuta ativa, pois a linda história da senhorinha me sinalizava a necessidade em ser ouvida e compreendida.

Uma mulher encantadora, uma menina mulher que aos 72 anos, descobre que ainda pode gritar.

Um grito engarrafado! Grito que já não se ouve com tanta veemência.

O outro se apresenta pra mim, cada vez mais, como uma bela surpresa! Ensina-me a me rever, a SER, a me revisitar constantemente e a me buscar por entre meus matizes de vida, de ganhos e perdas, de feitos e desfeitos, de coisas por fazer.



O que teria suscitando em mim? Que sentimento é este que também me diz respeito?

Lembrei do meu “grito”, sim... o grito foi um personagem modelado/ criado durante a Especialização em Arteterapia (2007). Surgiu sem que me desse conta do que se tratava... "fui modelando o barro... deixando que a forma surgisse, espontaneamente. As cores... o vermelho, o bico, a boca".

O meu grito... abafado, engasgado... engarrafado!



"Quando eu soltar a minha voz
Por favor, entenda
Que palavra por palavra
Eis aqui uma pessoa se entregando..."


Gonzaguinha