domingo, 26 de fevereiro de 2012

ALEGRIA EM CONSTRUÇÃO

“Amanhã tudo volta ao normal...”

E todo ano é a mesma coisa...

Aos poucos, as máscaras vão caindo, os personagens vão sendo substituídos, e à medida do possível, cada um vai voltando a sua forma original, pois o palco agora é o da vida, e o que fica é a saudade de dias alegres e divertidos onde cada um pôde ser o que quiser, embarcando na sua fantasia e brincando de ser criança, palhaço, homem ou mulher.

Há três anos acompanho o fotógrafo Álvaro Villela até Maragogipe, cidade do Recôncavo Baiano há 155 km da Cidade de Salvador, onde o carnaval ainda assume um formato diferenciado dos carnavais dos trios elétricos e das escolas de samba.

O carnaval em Maragogipe é dos CARETAS.



Desde a primeira vez que lá estive me encantei.
A praça, o coreto, as máscaras... lindas, coloridas, e muito criativas. Crianças e adultos se embalam na melodia do carnaval.


E eu me joguei... brinquei de ser criança também!



 “Tanto riso, oh quanta alegria, mais de mil palhaços no salão...” eles são muitos, todos mascarados...

“Mas quem é vc, advinha que eu qro saber...” são homens, mulheres, crianças, meninos e meninas deixando que suas fantasias assumam o papel principal.


Tempo de carnaval é tempo de fantasias! É o momento oportuno para aquela escapulida da vida normótica, da rigidez e do crivo da censura. O carnaval vira palco para a expressão dos desejos e fantasias das mais loucas e absurdas as criativas e necessárias. Por meio das máscaras é possível mergulhar no universo da imaginação e retirar, nem que sejam por uns poucos dias, as máscaras sociais, do rosto e da alma.

Para Jung, os rituais como o carnaval, facilitam a conexão entre nossas realidades interiores e exteriores, como também entre os mundos conhecidos e desconhecidos. E nesse processo, as formas vão surgindo e a simbologia do inconsciente vai sendo desvelada.

Jung chama a linguagem de que é feita a matéria dos nossos sonhos e fantasias de "pensamento não dirigido”. É a catarse do carnaval, a liberação das emoções. É a auto permissão para ser si mesmo.

E sem qualquer direcionamento a ordem é de alegria. A fantasia então preenche a realidade, muitas vezes dura e cruel, focada na razão, e vira um faz de conta com a duração de um período de carnaval. E é movido nessa emoção que brinca o folião. Mas é na quarta-feira de Cinzas que tudo volta ao normal ficando apenas as lembranças de dias encantadores.

No carnaval deste ano pudemos presenciar a construção de todo o processo de transformação que passam os caretas. Sim, caretas... é assim que os mascarados de Maragogipe são conhecidos.

No início da tarde da terça-feira de carnaval fomos até o local onde o grupo se reuniria para a concentração. Começo e fim são processos entrelaçados, e o que parecia ser o começo, na verdade, era o fim de uma história que se desenrola durante todo o ano. Homens com idades entre 40 a 50 anos que se reúnem periodicamente para a elaboração e construção do que será vivenciado nos dias de carnaval.



As horas que se seguem são para o desfecho, e em meio a bebidas, salgadinhos e muita brincadeira, o grupo vai se compondo. E cada um vai se apropriando do seu saco de fantasia, conferindo, descobrindo e se encantando com o que vê. Fantasias vão sendo expostas, desveladas, e aos poucos começavam a produção.

Processos mútuos vão se desenrolando.



Ao longo de 4 horas todo o processo é construído. É incrível perceber como tudo acontece... personagens vão sendo erguidos, na fala, no gesto, no cuidado com cada peça de roupa, no cuidado consigo e com o outro. A emoção fica à flor da pele... homens barbados se transformam em pierrôs apaixonados.

É um lindo processo de metamorfose.


Pude participar efetivamente testemunhando a arte da transformação desse grupo. Senti-me parte, emocionei!

Mas um deles me chamou a atenção. A lágrima que trazia na face não era apenas o desenho, a pintura, não era a lágrima do pierrô da colombina, era a lágrima de um choro real, do pierrô que habitava dentro dele. Era o último dia do carnaval e a fantasia chegaria ao fim.

SAUDADE era o tema da fantasia, era a palavra estampada na roupa. Saudade dos antigos carnavais, saudade deste carnaval que logo também ficaria apenas na história da vida de cada um deles.

Saudade de si mesmo, de quem foram um dia!
 
 

Agradeço de coração ao grupo SAUDADE, é assim que vou chamá-los... por ter me permitido fazer parte desse lindo e íntimo processo. Agradeço a Álvaro Villela, meu namorado, por ter me mostrado quão belo é o carnaval de Maragogó e por ter me permitido estar ao seu lado enquanto registrava cada momento desse lindo encontro.

Fotos: Álvaro Villela
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Você pode conhecer um pouco mais sobre o Carnaval de Maragogipe visitando a exposição Você me conhece, careta? com fotografias de Álvaro Villela. A mostra fica aberta a visitação no Largo Pedro Archanjo - Pelourinho/Ba até o dia 05 de março.

Também pode conhecer melhor o trabalho de Álvaro Villela:


domingo, 12 de fevereiro de 2012

ARTETERAPIA NA UNIPAZ!

 A UNIPAZ reabre suas atividades e escolhe a ARTETERAPIA como tema para o primeiro encontro.


"O grande valor da Arteterapia reside em auxiliar o ser humano a lidar com relações de modo mais criativo com o mundo, ampliando a consciência sobre suas potencialidades e possibilidades de atuação no mundo em que vive" (VALLADARES, 2006).

Iniciamos o trabalho falando um pouco sobre o que é a ARTETARAPIA.
Nos apresentamos... e eu aproveitei a oportunidade para trazer um pouco da minha trajetória, e cada uma pode também expressar-se livremente, trazendo um pouco de si para compartilhar com o grupo.

Após esse momento, o convite foi para aquietar os pensamentos e se rebuscar, estando de corpo e alma, relaxando enquanto ouviam a música...

Sonho De Uma Flauta
(O Teatro Mágico)

Nem toda palavra é
Aquilo que o dicionário diz
Nem todo pedaço de pedra
Se parece com tijolo ou com pedra de giz


Avião parece passarinho
Que não sabe bater asa
Passarinho voando longe
Parece borboleta que fugiu de casa


Borboleta parece flor
Que o vento tirou pra dançar
Flor parece a gente
Pois somos semente do que ainda virá


A gente parece formiga
Lá de cima do avião
O céu parece um chão de areia
Parece descanso pra minha oração


A nuvem parece fumaça
Tem gente que acha que ela é algodão
Algodão as vezes é doce
Mas as vezes né doce não


Sonho parece verdade
Quando a gente esquece de acordar
O dia parece metade
Quando a gente acorda e esquece de levantar
Hum... E o mundo é perfeito
Hum... E o mundo é perfeito
E o mundo é perfeito


Eu não pareço meu pai
Nem pareço com meu irmão
Sei que toda mãe é santa
Sei que incerteza traz inspiração

Tem beijo que parece mordida
Tem mordida que parece carinho
Tem carinho que parece briga
Tem briga que aparece pra trazer sorriso


Tem riso que parece choro
Tem choro que é por alegria
Tem dia que parece noite
E a tristeza parece poesia

Tem motivo pra viver de novo
Tem o novo que quer ter motivo
Tem aquele que parece feio
Mas o coração nos diz que é o mais bonito


Descobrir o verdadeiro sentido das coisas
É querer saber demais
Querer saber demais


Sonho parece verdade
Quando a gente esquece de acordar
O dia parece metade
Quando a gente acorda e esquece de levantar


Mas sonho parece verdade
Quando a gente esquece de acordar
E o dia parece metade
Quando a gente acorda e esquece de levantar
E o mundo é perfeito
E o mundo é perfeito
E o mundo é perfeito...

 
 
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O recurso escolhido para este encontro foi o conto de fadas,
um conto tibetano:
 
 
O conto começa quando uma mulher viúva e pobre, que vive numa região árida aos pés de uma montanha é levada por uma grande emoção a comprar um quadro...
 
 
Os mitos e contos são fontes inesgotáveis de conhecimento e significações.
Este conto relata a história de um sonho, um sonho que se transformou em realidade




Cada uma das mulheres ali presente deveria também construir o seu quadro de pano...


"Através das linguagens artísticas, o espírito ganha corporeidade e a matéria plasticidade. O interno e o externo, o real e o imaginário, entrelaçam-se num movimento formador e transformador. Aí reside um dos principais fatores terapêuticos da arte: poder dar visibilidade às tramas que permeiam as relações e que se concretizam em comportamentos; poder, ainda, propôr e criar novos paradígmas à medida que formas cristalizadas e não satisfatórias de relacionamento eu-mundo podem ser conscientizadas, questionadas, revistas e transformadas através da vivência de novas possibilidades de ser" (BERNARDO, 1999).

Silenciosamente, cada uma, foi buscando seu lugar de conforto, escolhendo o material para trabalhar e construindo o seu objeto de arte.

 



Ao final, numa grande roda de troca, puderam relatar o que viveram, o que sentiram, e o que ficou de mais significativo da experiência.


 "Me deliciei"

"Me senti na história"

"Que nosso sonho se tranforme em realidade"

"Incomodada com as lágrimas da viúva, veio a imagem da minha mãe"

"Repeti o desenho que fazia na infância"

"Sonho realizado"





As atividades expressivas nos possibilita interagir criativamente com a realidade, podendo ser utilizada em sua dimensão curativa e preventiva, promovendo o "sonhar acordado".