sábado, 5 de fevereiro de 2011

A ARTE DO TEMPO

Ir ao Rio e não aproveitar o momento para também nutrir a alma com algo que faz meus olhinhos brilhar, seria ser muito mazinha comigo!!! 
Ao contatar Sandra Salomão, mestra da época da faculdade, soube que aconteceria neste período o evento

VERÃO GESTALT IN RIO –
INTERCÂMBIO BRASIL-ITÁLIA

A oportunidade seria propícia para reencontrá-la e conhecer outros gestalt terapeutas e afins, além de saborear conhecimentos. Mas na verdade, como diz a própria Sandra, o que me levou até aquele lugar foi o amor, o amor pela profissão, pela crença daquilo que estudo e daquilo que acredito.

Poderia estar em qualquer outro lugar, pois estava em férias, mas escolhi estar ali, na PUC/ Gávea – RJ.
A segunda-feira foi diferente. Me proporcionei uma despedida mais intelectualizada, mais subjetiva...pensante, que amarrasse minha história de busca e de fechamento.
Tinha ido almoçar com um amigo que não via há pelo menos 20 anos... ”tudo é tempo, tempo é tudo e tempo é nada...”. Estava aquecida pra ouvir falar do tempo, tempo vivido e rebuscado, tempo que não volta, mas que em muitos momentos, me trouxe a sensação de não ter passado.
Somente ali fui me dando conta do quanto era ali mesmo que eu deveria estar, e não em outro lugar!
Segundo Sandra, foi por causa do “tempo que passa e do que não passa” que decidiu fazer uma palestra sobre o tempo em psicoterapia.
A Arte do Amor, a Arte da Terapia e a Arte do Tempo...
A Arte do Amor com Anna Ravenna – Especialista em Identidade de Gênero e Sexualidade. Diretora do Instituto Gestalt–Firenze  -  Roma (Itália).
A Arte da Terapia com Paolo Quattrini PhD – Diretor do Instituto Gestalt-Firenze (Itália).
A Arte do Tempo com Sandra Salomão – Mestre. Professora e Supervisora de Estágio pela PUC-Rio. Diretora Técnica do CGT.

Enfim... o que vi, ouvi e percebi naquele lugar coincidia com tudo o que eu estava vivendo naqueles dias. A palestra foi um doce convite a integração e a despedida. Os palestrantes encantaram... e com suavidade se aproximaram de uma linda e plena gestalt.


Anna Ravena falou do amor... Mas o que é o amor, afinal? A palestrante sugeriu uma reflexão sobre o tema. Nos convidou a vasculhar a alma...
Para Anna, ENTREGA é a palavra que melhor o define.
O amor é uma experiência de vida, atitude natural do ser humano “amamos e somos amados”.

Citou Martin Buber e Khalil Gibran.

Buber fala de encontro, da relação EU/ TU – onde o amor se instala. Mas uma relação de amor vai além do enamoramento. E o que buscamos no enamoramento?

Em gestalt, é fundamental aceitar a si mesmo como se é, “estar sobre nossos próprios pés”, como diz Anna.
Quando isso não acontece, oscilamos na autoestima e ficamos vulneráveis, nos tornamos náufragos na relação com o outro. O temor de estar só faz do outro o nosso salva vidas.


“No amor, fiquem juntos, mas não tão juntos, pois os pilares do templo ficam bastante afastados e o carvalho e o cipreste não crescem um na sombra do outro”. Khalil Gibran

Paolo Quatrinni falou sobre a Arte da Terapia. De fato, terapia é uma arte... de olhar, de ouvir, de sentir e de estar na mesma sintonia...de SER TERAPEUTA.

Terapia não é somente técnica, pois estamos diante de um SER HUMANO. Não se pode deixar de levar em conta o poder das escolhas que a ele confere e a nós também, enquanto terapeutas. É uma relação viva. O manejo da relação terapêutica está na capacidade de escolher na diferença e não na igualdade, o que a torna mais difícil.

Paolo exemplifica da seguinte forma: uma mesma receita feita por duas pessoas diferentes. TUDO MUDA.

A diferença é o que singulariza o ser humano e lhe dá a devida importância. E para Paolo, nada mais diferente do que HOMEM e MULHER. A diferença precisa ser apreciada e não negada.

Em gestalt, o todo é mais do que a soma de suas partes. Portanto, ao se falar do humano, não podemos restringi-lo às partes, ele é maior, ele tem o livre arbítrio que o redimensiona.

O amor também se presentifica na terapia. O paciente tem que ser querido, amado, sob o ponto de vista da pessoa. É preciso estar feliz com a felicidade dele para que o trabalho terapeutico aconteça. Nessa relação, cabe ao terapeuta estar inteiro, ser ele mesmo, “é mais fácil manejar quando estou dentro” diz Paolo.

O paciente tem que estar acalentado “quietinho no coração”, se nutrindo dessa relação. Não pode estar enamorado, nem identificado. Afinal, o objetivo da terapia é a busca pela unidade.

Sandra Salomão justifica a escolha do seu tema: a Arte do Tempo - inspirada na arte do fazer em gestalt terapia. Ela se coloca entre o amor e a irreverência, respectivamente, entre Anna e Paolo, mas escolhe ficar para o final.

Sem dúvida, Sandra é um encanto de amorosidade e irreverência! ...trás, literalmente, o tempo em sua fala, vai e volta, conta causos, brinca com as palavras.

Para ela, o tempo é percebido por causa das marcas que ele deixa.
Em gestalt, o tempo é fenomenológico, é o tempo vivido.
É o tempo do aqui e agora. E o que fazer com este agora?

O tempo da vida é levado para o tempo terapêutico e vice-versa, construindo com o outro, assim, a sua singularidade.
O tempo também é utilizado como álibi, para nossas desculpas e “a gente faz coisas incríveis com a desculpa do tempo”, diz Sandra.


E com papel seda, sugere que façamos um recorte do que ficou sobre a compreensão do tempo, esse tempo que não para, que não volta, mas que se ressignifica a cada momento.



Pra mim, a imagem não poderia ser outra. Denominei "MARCAS DO TEMPO". Do tempo que vivi e revivi. Do tempo que já foi, mas que volta, volta sempre que a gente dele necessitar. Basta rebuscar na caixinha preta do cérebro. Mas nada é perfeito. Há lembranças e esquecimentos. Fatais!



"Nada do que foi será
De novo do jeito que já foi um dia
Tudo passa
Tudo sempre passará...

Tudo que se vê não é
Igual ao que a gente
Viu há um segundo
Tudo muda o tempo todo
No mundo..."
Lulu santos




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