... de repente me dei conta de que estava só... nem procurei na
bolsa, sabia que tinha esquecido em casa, em cima da cama. Estava a
caminho de um evento, e se voltasse correria o risco de me atrasar... tinha um
trabalho super importante pra fazer... mas como tiraria as fotos? Costumo
fotografar todo trabalho que realizo.
Antes, usava uma pequena máquina
fotográfica, mas depois da aquisição do novo celular, é com ele que costumo
fotografar... acessar as redes sociais, checar e-mails, conta bancária, sessões de
cinema, minha agenda, minhas músicas, joguinhos,
tudo o que preciso e o que não preciso também,
é com ele que me ocupo enquanto espero por algo ou por alguém. Ah, também faço e recebo ligações!
Que sensação estranha! Confesso que por várias vezes pensei
em voltar para buscá-lo, mas a cada momento minha casa ficava mais distante, e aos
poucos fui me permitindo experimentar parte deste dia sem meu companheiro de
todas as horas. Com certeza encontraria alguém que pudesse fazer as fotos que
precisaria, mas ... e se alguém precisasse falar comigo? E se eu precisasse
falar com alguém? Nada seria tão urgente que não pudesse esperar, afinal, estaria ocupada por quase toda manhã!
Decidi seguir em frente, mas a sensação da falta me
acompanhava, olhava para a bolsa, a bolsa olhava para mim, mas ele não estava
ali. O hábito de olhar constantemente e fazer as checagens... não tinha o que
checar. Imaginei várias vezes ele tocando, fazendo todos aqueles
barulhinhos que me avisam que alguém lá fora me chama, me manda um recado, me
avisa de algo. Cá estava eu alheia a tudo isso, distante do mundo, sozinha. Não
saberia nada do que estaria acontecendo fora do meu entorno. E pra que precisaria saber? Que louco!
O trabalho foi um sucesso. Não fiquei sozinha nem por um
minuto... gente de todas as formas, cores e tamanhos... me envolvi, como sempre
e, vibrei com cada momento da atividade que estava desenvolvendo. Foi um lindo
dia, um belo trabalho. Correspondeu as expectativas, se é que não superou! As
fotos foram tiradas, mas as melhores fotos... Ah, essas eu pude registrar com o obturador do
cérebro e serão impossíveis de serem reveladas, ficarão eternizadas em
minha memória.
Lembrei da infância e da adolescência sem celular, sem
computador, sem redes sociais... com a presença possível, e a ausência também.
Éramos livres e felizes.

Ainda estiquei um pouco mais. Pretendia fazer algo ao sair
deste trabalho e, mesmo sem o celular, não corri para casa afim de
pegá-lo. Fui ao encontro do que havia me programado para fazer... um pouco preocupada
com os possíveis acontecimentos que estariam fora do meu controle, mas com uma
leve sensação de liberdade, de poder estar comigo mesma. E após 6 horas de uma longa
espera cheguei em casa. Ufa! Lá estava ele solitário, sobre a cama,
demandando uma super checagem...
Ainda deu tempo de aceitar um convite para o almoço do sábado, e tudo voltou ao normal!
Nenhum comentário:
Postar um comentário