quarta-feira, 2 de novembro de 2011

OS QUE PARTEM E OS QUE FICAM

“Nós podemos até retardá-la, mas não podemos escapar dela”
Kübler-Ross



A morte ainda é um tema que se esconde por detrás das cortinas do nosso viver. Apesar de se revelar a todo instante e em circunstâncias diversas em nossa vida, ao pensarmos, somos tomados por reflexões e sentimentos das mais variadas tonalidades.

Falar sobre esse tema ainda é bastante sofrível, pois a morte não é vista como se fizesse parte das nossas vidas. Desde criança, não somos ensinados a percebermos a relação entre morte e vida, e que ambas, fazem parte de um mesmo mistério.

O medo de partir e o medo de ficar...
Quem vai, deixa para trás uma vida...
Quem fica... fica com a dor da saudade.

O medo da finitude e a busca da juventude eterna são reforçados, ao longo dos séculos, pelos contos e mitos, que retratam a fantasia da ressurreição, dando ao homem uma possível condição de permanência.

“O homem persegue o renascer e tenta transformar a morte num começo de si mesmo”
(Hulak & Lederman, 1992, p. 335).

 
Para Jung, os mitos nos ajudam a lidar com o tema da morte.

O MITO DA FÊNIX

Foi entre os egípcios, que surgiu o mito da Fênix, pássaro da mitologia grega que quando morria entrava em autocombustão e passado algum tempo renascia das próprias cinzas.



A Fênix, o mais belo de todos os animais místicos, simbolizava a esperança e a continuidade da vida após a morte, possuía uma voz melodiosa que se tornava triste quando a morte se aproximava. A impressão que a sua beleza e tristeza causavam em outros animais, chegava a provocar a morte deles.

A crença na ave lendária que renasce das próprias cinzas existiu em vários povos da antiguidade como gregos, egípcios e chineses. Em todas as mitologias o significado é preservado: a perpetuação, a ressurreição, a esperança que nunca têm fim.


Uma releitura do mito de Narciso surge como complementação do mito da Fênix, pois ao ver a imagem que vislumbrou refletida no lago, tenta destruí-la. Na verdade, não é para a morte que Narciso vai ao mergulhar no lago, mas para a vida, buscando renascer das próprias águas (Hulak & Lederman, 1992).



A vida nada mais é, que uma grande Gestalt, uma configuração, com início meio e fim, onde todas as partes se interrelacionam. É um convite a totalidade, de forma, que nascer e morrer, fazem parte do mesmo ciclo.

No decorrer da vida passamos por vários ciclos e pode ser que em algum momento precisemos ressurgir das cinzas, ou mesmo das águas, para uma nova fase repleta de mudanças significativas. Até mesmo o adoecer, nos possibilita o renascimento, "a doença como caminho" de cura, de novas descobertas e construção de um novo ser.

Mas nem sempre esse movimento se dá com facilidade. Muitas vezes, se faz necessária a busca por um profissional especializado, um facilitador na busca da resolução dos nossos processos internos.

Dessa forma, um trabalho arte gestáltico, poderá contribuir para o ressignificar do luto.

Ao vivenciarmos um evento por meio da experiência gestáltica em arte é possível nos aproximamos da nossa criança interior, e de maneira delicada, promovermos possíveis mudanças na nossa forma de ser e conceber o mundo ao redor. Podemos nos embalar no mundo da fantasia que a arte proporciona e fazer dela um caminho para nossa reconstrução pessoal.




“A razão pela qual desenhar ou pintar pode ser ‘terapêutico’ é o fato de que, quando são experienciadas como processos, essas atividades permitem ao artista se conhecer como uma pessoa inteira, dentro de um intervalo de tempo relativamente breve” (Zinker, 2007, p. 259).


O que nos resta, senão aceitar a realidade que nos cerca! E com o colorido e a alegria das cores, esse processo se torna bem mais leve e mais fácil de ser vivenciado.

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