segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

DESVELANDO MÁSCARAS







Mas é carnaval! Não me diga mais quem é você!
Amanhã tudo volta ao normal.
Deixa a festa acabar, deixa o barco correr,
Deixa o dia raiar que hoje eu sou
Da maneira que você me quer.
O que você pedir eu lhe dou,
Seja você quem for, seja o que Deus quiser...”!
(Trecho da música “Noite dos Mascarados” de Chico Buarque)


A máscara fez, e faz parte da história e do cotidiano do homem. Presente em todas as culturas e em quase todas as épocas, nos rituais e festas populares, caracterizou o início do teatro.

Ainda hoje continuamos a nos mascarar nos bailes da vida!! O fato de nem sempre podermos nos mostrar como realmente somos, manifestando nossos sentimentos e emoções, torna o uso da máscara comum para nossa convivência.

Então, “não me diga mais quem é você”, até porque, nem você sabe ao certo quem você é de verdade. As máscaras que usamos na vida, como forma de sobrevivência nas relações, acaba por nos descaracterizar de nós mesmos.

A palavra personalidade vem do grego persona, que significa máscara, designando assim, segundo Jung, a parte da psique que esconde ou revela os pensamentos e sentimentos conscientes de uma pessoa para a outra.



Máscaras tem poder de transformação. Quando utilizada permite a observação do Outro, enquanto seu usuário fica protegido de olhares (PAVIS, 2005 apude BATISTA, 2010). Proteção esta, que nos impede também, de olharmos para o nosso interior, para o dorso da nossa própria máscara, não nos dando conta da dimensão invisível que permea a maneira como vemos o mundo (BERNARDO, 2008).

Considerada uma ferramenta de adaptação, um recurso de defesa psíquica, nos mascaramos no nosso dia-a-dia, correndo o risco assim, de nos apegarmos aos papéis que exercemos e esquecendo que somos atores de uma obra bem mais vasta.

No carnaval, nos caracterizamos com a máscara, não aquela que esconde, mas aquela que revela, pois neste período, não nos importamos de ser quem somos, extravassamos o que estava reprimido e que se escondia por detrás das máscaras do cotidiano.

“As máscaras vão cair
E tudo que você vestiu
Agora você vai despir...”
(Trecho da música “As máscaras” de Cláudia Leite)

Carnaval é o tempo de revelar, de se mostrar, de se libertar das amarras sociais. É hora de deixar as máscaras caírem! Sim, aquelas que tão somente nos é permitido o uso, aquela que acreditamos poder mostrar ao outro.

Sendo assim, a máscara deve ser entendida não somente como objeto de apreciação e magia, mas como importante símbolo de identidade. Ao propôr a confecção de máscaras em oficinas ou setting terapêutico é possível trabalhar a criatividade e a expressão de conteúdos inconscientes, acessando, desta forma, aspectos da psique que ainda não foram revelados.

O experienciar do processo de construção da máscara possibilita o diálogo com os nossos “outros” que nos habitam, nos permitindo o dar-se-conta dos papéis que exercemos na vida (BERNARDO, 2008). Ao dialogar com os nossos personagens internos, entramos em contato com aspectos não reconhecidos da psique, ampliando assim, a percepção de si-mesmo e  “abrindo espaço para a troca com o outro dentro e fora de nós” (ARCURI, 2004, p. 136).

Na relação com o outro, tendemos a projetar. A projeção é um conceito da psicologia e da psiquiatria, e ocorre de forma inconsciente, é “um mecanismo neurótico no qual existe uma tendência a fazer o meio responsável pelo que se origina na própria pessoa” (PERLS, 1981, p. 49).

Ao vivermos na inconsciência, na escuridão do lado de dentro das nossas máscaras, não compreendemos os mecanismos pelos quais passamos. Ao nos apropriarmos de um saber maior sobre nós mesmos por meio do autoconhecimento, seja na psicoterapia ou em trabalhos vivenciais, passamos a compreender os diversos mecanismos que utilizamos como forma de defesa, como o da projeção, por exemplo, podendo, desta forma, nos tornar seres mais responsáveis por nossos comportamentos e atitudes.

O trabalho com máscaras pode ser um facilitador neste processo. Em Arteterapia várias técnicas podem ser realizadas na confecção de máscaras:

- papietagem (usando tiras de papel sobre a argila ou uma bola de assopro;
- com suporte de papel ou cartolina;
- máscaras prontas, usando somente a pintura

Essas técnicas são menos mobilizadoras de sentimentos mais dolorosos.


- ou confeccionar a máscara do próprio rosto com atadura gessada

Técnica que desperta sentimentos profundos e fortes relacionados a questões do nascimento.
 




Para Arcuri (2004) "a máscara em gesso do próprio rosto, fossiliza, dando-lhe uma nova roupagem e trazendo à luz aspectos não conscientes que poderão ser integrados à consciência, ampliando-a” (p.136).




Temos aqui, um rico e poderoso recurso de facilitação dos processos interiores. Após a confecção da máscara é sugerido a criação de um personagem, seguindo de um diálogo com a própria máscara. A realização de uma dramatização pode ocorrer, bem como, um baile de máscaras, possibilitando a troca de papéis, caso haja um grupo de pessoas realizando o trabalho.



 Mas retornemos ao carnaval...

“Eu tenho tanta alegria, adiada,
Abafada, quem dera gritar...
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar...”
Chico Buarque

E já que é tempo de carnaval, vamos aproveitar e colocar a alegria pra fora e aprender a ser si-mesmo neste imenso processo que é a vida.

Então grite!!! Grite ao mundo e diga pra que veio!!!

Qualquer tempo é o tempo certo para a expressão de emoções. Não é preciso esperar o carnaval chegar!!

E se quiser, seja nosso convidado... venha experimentar desvelar suas máscaras na
Oficina "Desvelando Máscaras".

Data: 01 de março (terça-feira)
Horário: 19h
Local: Edifício Clinical Center sala 607 - Pça da Bandeira
Contatos: 8816.6870/ 9864.9220
elinhapaes@yahoo.com.br

vagas limitadas!!!!

...e deixe que as máscaras caiam!
 


Referências Bibliográficas

- ARCURI, I. G. Arteterapia do Corpo & Alma. São Paulo: Casa do psicólogo, 2004.
- BATISTA, V. V. A máscara e a persona no processo arteterapêutico. Revista de Arteterapia da AATESP, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 23-34, 2010.
- BERNARDO, P. P. A prática da arteterapia: correlações entre temas e recursos, volume I: temas centrais em arteterapia. São Paulo: Ed. Do Autor, 2008.
- PERLS, F. S. A abordagem gestáltica e testemunha ocular da terapia. Rio de janeiro: Zahar, 1981.






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