domingo, 7 de novembro de 2010

"O ato de escrever é o momento de mostrar nossas vergonhas..."

Ouvi essa frase durante o Congresso Brasileiro de Arteterapia em São Paulo, mas não me recordo quem a disse. Anotei a frase, pois de mim ela falava, mas não tive o cuidado de registrar sua autoria. Quando não anotamos nem sempre lembramos, ou recordamos apenas, daquilo que é essencial, daquilo que nos inebria. Assistindo a Rubem Alves, certa vez, lembro-me quando pediu a todos que guardassem seus blocos de anotações e simplesmente, prestassem atenção a sua fala. Segundo ele, não costumamos rebuscar nossos registros “o que amamos, guardamos no coração”.
Confesso que mesmo a pedido, não me contive e fiz algumas poucas notas daquilo que julguei importante, essas eu rebusquei durante algum tempo!
Hoje, remexendo em meus papéis, me deparei com esta frase que de mim tanto fala. Neste momento pude perceber a importância do anotar e de não deixar amarelar.
Então, voltemos à frase...
Escrever é se mostrar na sua inteireza, nos alinhavos e nas fendas, é se fazer visto pelos olhos do outro. Escrever é se expor, se arriscar ao ridículo, é ousar. É tirar de dentro e materializar... logo, o outro pode não gostar!
O ato de escrever é o momento de mostrar nossas vergonhas... sim, vergonha do outro que vai ler, de não saber escrever bonito e de não acertar as palavras.
Por isso escrever nem sempre é uma tarefa muito fácil para algumas pessoas. Na verdade, é um desafio a si próprio.
Sempre que precisava escrever era um dilema. Levava horas para elaborar um texto, travava, passava a bola quando o trabalho era em grupo ou desistia. Acabava eu mesma a me rotular “não sei escrever”.
Foi durante a especialização em arteterapia que descobri o quanto que escrever me fascinava. Foi na escrita dos trabalhos, inicialmente, e depois da monografia, que aprendi a escrever... é, a gente aprende tudo, até mesmo a escrever! A técnica da escrita criativa me ajudou a eliminar tudo aquilo que eu não precisaria para o ato de escrever, principalmente o medo, o grande vilão, pois ele acaba bloqueando a nossa criatividade.
Descobri também, que quanto mais eu me afastava da escrita, mas ela se afastava de mim e que por não insistir, a dificuldade só fazia aumentar. Outro ponto importante nesse processo, é o quanto eu era exigente comigo, queria uma escrita livre e linda, fluida como nos textos que gosto de ler, mas não me permitia nem experimentar, parando diante do primeiro obstáculo.
Na arte, encontrei então, a permissão para escrever, escrever com emoção, escrever do meu jeito. Aprendi a escrever o que vivia e sentia de forma livre através da escrita criativa, escrevi com o coração e desse jeitinho fui deixando que as palavras chegassem sem obrigação, descrevendo cada coisinha que vinha de dentro da alma para que eu pudesse ir dando forma a tudo aquilo que precisva ser dito.
É preciso deixar-se ir bailando com os trocadilhos e criativamente deixar emergir o conteúdo a ser explorado.
Escrever é uma arte e, portanto, é preciso se deixar levar, assim como no fazer arte... é necessário se deixar ir, se embalar nas cores e nas formas, é preciso ser espontâneo para poder criar. É a sua expressão que vai surgir, assim como na escrita.


Criar é dar vida a uma história...seja qual for a história!

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